Estudos e Entrevistas

Reposição hormonal x incidência de câncer na mulher.

A ginecologista Célia Regina da Silva, profª da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pesquisa a importância dos fitohormônios para a medicina convencional. A médica é autora do primeiro livro na América Latina sobre o tema, Fitohormônio: Uma Abordagem Natural da Reposição Hormonal. Ajudou a fundar no Rio de Janeiro a Sobrafito - Sociedade Brasileira de Fitomedicina..
 
Professora Célia, quais as principais diferenças entre reposição hormonal sintética e natural, feita com fitohormônios?
 
Os fitohormônios são princípios ativos presentes em certas plantas que apresentam na sua estrutura química semelhança à molécula de estrogênio que a mulher produz naturalmente, facilitando o reconhecimento e acoplamento dos receptores estrogênicos - então ele dá o efeito em nível celular semelhante ao estrogênio que a mulher produz, que é o hormônio feminino. Assim, estas substâncias desempenham um efeito estrogênico de variável potencialidade, quando comparada ao tratamento hormonal sintético. São compostos que se ligam fracamente aos receptores estrogênicos (menos que 1% da afinidade de ligação do estradiol). Apresentam ação seletiva, isto é, exibem atividade estrogênica em alguns tecidos e anti-estrogênica em outros.
 
Qual a relação da reposição sintética com o aparecimento de alguns tipos de câncer na mulher pela alta incidência de consumo do hormônio sintético?
 
Pesquisadores do Kaiser Permanente Center for Health Research em Portland, Oregon, chegaram à conclusão de que realmente existe uma ligação entre câncer de mama e o uso de terapia hormonal na menopausa, principalmente no tratamento com a combinação estrogênio/progesterona. 

Glass e seus colegas analisaram os históricos médicos de 7.386 mulheres (no banco de dados do Kaiser Permanente no noroeste do país) diagnosticadas com câncer de mama entre 1980 e 2006. Eles descobriram que a incidência desse tipo de câncer aumentou em 25% do começo dos anos 80 ao início dos 90, período em que um número crescente de mulheres estava fazendo mamogramas e também terapia hormonal para controlar sintomas da menopausa e prevenir doenças crônicas. Glass reconhece que o aumento da incidência da doença poderia ser atribuído ao crescimento do número de mamogramas, já que o exame consegue detectar câncer que poderiam passar despercebidos até que a enfermidade progredisse. 

No entanto, Glass ressalta que o número de mamografias entre mulheres no Kaiser se estabilizou no começo dos anos 90, dando aos pesquisadores a oportunidade perfeita para estudar a relação entre câncer de mama e o uso de terapia hormonal. Eles descobriram que a incidência desse tipo de câncer seguiu o uso de hormônio do início da década de 90 em diante. Ainda durante os anos 90, a incidência da doença subiu para cerca de 15%, em sincronia com um número cada vez maior de mulheres que faziam terapia hormonal. 

Em 2001, a tendência se inverteu: o número de casos começou a declinar gradualmente, mas caiu categoricamente na metade do ano de 2002, quando muitas mulheres nos Estados Unidos pararam de fazer terapia de reposição hormonal quando a Women's Health Initiative, um grande programa de pesquisa, determinou que os riscos do tratamento com estrogênio/progestina como a probabilidade de desenvolver câncer de mama era maior que os benefícios. Donald Berry, professor e diretor do departamento de bioestatística do M.D. Anderson Cancer Center da University of Texas, em Houston alega que outras análises nos Estados Unidos e Europa demonstraram a mesma coisa. Araújo Jr, em 2007, à luz dos conhecimentos atuais sobre o efeito protetor que a combinação de progestínicos apresenta sobre o risco de carcinoma do endométrio não parece contrabalançar uma série de outros efeitos adversos da TRH combinada, incluindo o risco de outros tumores malignos mais freqüentes.
 
Quantos anos de vida uma mulher fica na menopausa? Passar este período todo tomando remédio para a menopausa é saudável? Quais são os riscos? O que as pesquisas revelam neste sentido?

Em torno de 2O anos (de 45 a 65 anos). Existe uma janela de oportunidade para o uso de terapia hormonal sintética, quando necessário. O que definirá o uso ou não é a sintomatologia de cada paciente. Não é indicado o uso de terapia hormonal sintética por mais de 5 anos, salvo algumas exceções. Após esse período aumenta o risco relativo de câncer de mama, de endométrio, tromboembolismo e risco cardiovascular (IAM e AVE).
 
Você é uma das médicas precursoras da “menopausa natural”. Como trata suas pacientes que estão nesta fase de vida?

Estimulando qualidade de vida, tanto na sua alimentação, como na atividade física, combatendo o stress excessivo com relaxamento. Uma vez que as desordens emocionais têm efeito direto na neuroimunoendocrinologia da mulher. Conforme a sintomatologia apresentada, estabeleço o tratamento com fitomedicamentos, dentre eles isoflavonas de soja.
 
Quem fez histerectomia pode tomar gérmen de soja?

Sim, pois a retirada do útero não interfere no tratamento dos sintomas da menopausa.
 
A soja realmente tem a contribuir com mulheres no período da menopausa? O que os seus acompanhamentos como médica e estudos clínicos mostram?

Temos um estudo da Dra. Eliana Aguiar Petri Nahás, profª do Deptº de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP e membro da Sociedade Brasileira de Climatério e Menopausa, sobre a eficácia da isoflavona em um grupo composto por 50 mulheres na pós-menopausa, com contra-indicação à TRH sintética. O grupo foi dividido em dois: 25 mulheres tomaram a isoflavona e as outras 25 tomaram placebo. As pacientes não sabiam se estavam tomando placebo ou isoflavona. Aquelas que fizeram uso do gérmen de soja apresentaram melhora completa dos fogachos e da secura vaginal. Foi constatado ainda que, com o uso da isoflavona, os níveis de LDL (mau colesterol) foram reduzidos e os de HDL (bom colesterol) aumentaram.
 
A recomendação de gérmen de soja em cápsula pode ser benéfica?
 

Sim, o gérmen de soja é rico em isoflavonas, mas também tem teor de ácidos graxos essenciais que têm ação benéfica potencializando os efeitos das isoflavonas em combate a sintomatologia da menopausa e risco cardiovascular.
 
Isoflavona engorda?
 

Não engorda pois o valor calórico é mínimo. Quando utilizamos cápsula de gérmen de soja, o teor calórico é de 6 calorias por dose diária.
 
O seu livro pode ser encontrado nas principais livrarias ou há algum telefone de compra para contato? Sabemos que tem um trabalho interessante sobre o tema e queremos informar todas as mulheres.
 

O livro foi lançado pela editora ATHENEU e encontra-se no site da editora, assim como nas livrarias. Estou com uma pesquisa concluída sobre os efeitos da soja no endométrio, mas ainda está em fase de publicação.
 
Doutora, há algo importante que não lhe foi perguntado sobre o tema e deseja transmitir como informação?
 

Penso que o uso e a "aceitação" dos fitomedicamentos poderia ser muito melhor, pois trazem inúmeros benefícios para a saúde das pessoas. Acredito que o problema se deve principalmente a pouca informação passada aos médicos durante a graduação. Sabe-se muito pouco sobre este tema, extremamente rico para todas as áreas de atuação médica. Necessitamos um incremento nas pesquisas nos diferentes centros universitários.    

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Dra. Célia Regina da Silva

Dra. Célia Regina da Silva

Médica Ginecologista.