Estudos e Entrevistas

Consumo de gérmen de soja diminuiu níveis de colesterol alto na pós-menopausa.

A ginecologista com título de Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ceci Mendes Carvalho Lopes estudou os efeitos do consumo de gérmen de soja no tratamento de mulheres na pós-menopausa, interessadas em utilizar produtos não-sintéticos que lhes aliviassem os sintomas e trouxessem outros benefícios. 

O estudo com o gérmen de soja, pioneiro e realizado no Setor de Ginecologia Endócrina e Climatério do Hospital das Clínicas (HCFMUSP), apresentou resultados animadores: pacientes que iniciaram o tratamento com níveis de colesterol acima do normal, por exemplo, obtiveram melhora. Quanto aos exames laboratoriais, não houve influência sobre os níveis de glicemia. A doutora Ceci também é diretora e fundadora da Sobrafito (Associação Médica Brasileira de Fitomedicina), entidade que se propõe a estimular o uso de fitoterápicos com respaldo científico.

Do que trata sua pesquisa?

A pesquisa abordou o tratamento de 77 mulheres após a menopausa com idade entre 41 e 70 anos e interessadas em utilizar produtos não-sintéticos que lhes aliviassem os sintomas e trouxessem outros benefícios. Esse tem sido um interesse crescente do público feminino, especialmente depois da divulgação de resultados de trabalhos americanos com tratamento hormonal da menopausa (na época em que começamos este, estava em pauta o estudo HERS (The Heart and Estrogen/progestin Replacement Study); hoje, depois do WHI (Women's Hearth Initiative), esse interesse tem aumentado ainda mais.
 
Como foi feita a escolha das pacientes? Qual o seu perfil?

As pacientes incluídas nesse estudo foram analisadas durante um ano e eram mulheres que já tinham passado pela menopausa, ou seja, que já não menstruavam havia pelo menos um ano e tinham sintomas climatéricos, razão pela qual procuraram o atendimento na Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 
Não incluímos pacientes que estivessem utilizando tratamento estrogênico, nem que o tivessem feito nos últimos três meses.
 
Por que a escolha do índice de Hauser para medir as queixas das pacientes?
 
Há alguns critérios utilizados por outros autores. Nenhum deles, porém, nos parece perfeito. Preferimos adotar o índice proposto por Hauser e outros autores, porque é mais simples. São dez sintomas, e a própria paciente atribui um valor de zero a dez para cada um deles. Todos são considerados com o mesmo peso, e o valor do índice corresponde à média dos pontos fornecidos pela paciente. A tendência será de critério mais uniforme.
 
Quais dados (como os hormonais e de colesterol) foram avaliados? A quais exames elas se submeteram?
 
Todas as pacientes atendidas no Setor de Climatério da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP são submetidas ao exame mais completo possível. E nenhuma das pacientes deste estudo deixou de ter essa avaliação, abrangendo histórico, exame físico e exames subsidiários importantes, como o teste de Papanicolau, mamografia, ultra-sonografia transvaginal, densitometria óssea, e exames de sangue, como dosagem de glicemia e de colesterol. Depois de prescrito o gérmen de soja, passamos a acompanhá-las não só clinicamente, avaliando a evolução dos seus sintomas pelo índice de Hauser, mas também acompanhando com exames de sangue, por meio dos quais verificávamos os níveis de glicose e de colesterol. Avaliamos também hormônios: estradiol, FSH e LH. Após um ano de acompanhamento, todas voltaram a realizar mamografia, ultra-sonografia transvaginal e densitometria óssea.
 
A que conclusão a equipe chegou?
 
Como um todo, os resultados foram muito animadores. Tivemos muitos pontos avaliados, portanto, obtivemos várias conclusões. Quanto aos sintomas, houve uma melhora que perdurou durante o ano de observação. O trabalho não dispôs de um grupo-controle (por exemplo, um grupo de pacientes tomando placebo). Quanto aos exames laboratoriais, não houve influência sobre os níveis de glicemia. As pacientes que iniciaram o estudo com níveis de colesterol acima do normal obtiveram melhora desses níveis. (Não foi à toa que o exigente FDA americano aprovou a soja como nutriente, justamente pelos seus benefícios em baixar os níveis de colesterol.) Quanto às dosagens hormonais, não se alteraram, o que também era esperado. Não foi possível obter a avaliação estatística quanto a densitometria óssea, mas muitas das pacientes obtiveram melhora da massa óssea (após a menopausa, espera-se sempre alguma piora).
 
Por que a escolha do gérmen de soja para os testes?
 
Essa escolha foi feita por uma conjunção de fatos. Estávamos interessados em pesquisar o fitohormônio. Havia a idéia de avaliar um produto que é um "totum", ou seja, que tem os vários componentes da planta testada, não um extrato (no caso peculiar do que utilizamos, é um pó do gérmen do grão da soja, que concentra isoflavonas). Essa é uma questão que está presente quando se pensa em fitoterapia: o extrato concentra o princípio ativo, portanto deve ser preferido, mas o "totum" contém outras substâncias da planta, que podem agir sinergicamente com o princípio ativo, e potencialmente poderia trazer melhores resultados.
 
Houve efeitos colaterais?
 
Foi surpreendente a ausência de efeitos adversos.
 
Trata-se de estudo pioneiro? Qual sua importância?
 
Já há muitos estudos sobre isoflavonas da soja, quer utilizando-se a soja como complemento nutricional (o caso do gérmen de soja que empregamos no estudo), quer como fitomedicamento (o caso dos extratos padronizados).
 
Seu estudo pode ser aplicado na prática, isto é, a senhora vai recomendar gérmen de soja às suas pacientes?
 
Certamente o gérmen de soja está no nosso arsenal de opções terapêuticas. Cada caso tem sempre de ser avaliado individualmente, mas, se a soja já nos era simpática, com dados de nossa experiência em mãos, isso fica reforçado.

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Drª Ceci Mendes C. Lopes

Drª Ceci Mendes C. Lopes

Médica Ginecologista.